Entrevistas
[ARKTALKS] Camila Mirapalhete: “Conhecer o mundo e a maneira como as pessoas vivem é imprescindível para fazer boas escolhas na hora de projetar”
Arquiteta responsável pelo projeto do teatro da Univates, uma referência arquitetônica no estado, Camila Mirapalhete, do escritório Tartan Arquitetura, conversou com o M2 Portal sobre sua experiência na profissão e seus projetos marcantes. Confira nosso bate papo com ela.
O que despertou a sua paixão pela Arquitetura? Quais foram as influências?
Desde criança lembro de ter fascínio pela cidade, as pessoas circulando pelas ruas, as casas, os prédios. Com certeza foi meu pai, com sua curiosidade em sempre conhecer e nos apresentar novos lugares que me despertou esta vontade de trabalhar com o ambiente construído e com as cidades.
Como iniciou no mercado de trabalho? Você lembra da primeira experiência fora da universidade?
Minha experiência no mercado de trabalho começou muito antes de me formar. Durante a faculdade fiz bons estágios em empresas da área mas, muito mais importante que isso, trabalhei em outras atividades: fui vendedora de loja, atendente, caixa, cozinheira de pub. Viajei, morei fora do país. Conheci melhor as pessoas e suas realidades. Tudo isso me fez muito melhor profissional, me fez ter a capacidade de empatia, me fez entender o ser humano um pouco melhor e assim projetar melhores lugares para suas atividades.
Qual foi o primeiro projeto executado totalmente por você? E qual foi a primeira dificuldade superada?
Foi uma residência. A maior dificuldade naquela época era o medo de ser surpreendida por alguma pergunta que eu não soubesse responder. Mas lembro de ter contado muito com os fornecedores, parceiros de trabalho. Sempre que alguma etapa ou pergunta me assustava, recorria aos profissionais que estavam ao meu redor. Por isso, estarmos cercados de bons fornecedores e parceiros sempre é uma grande procura aqui do escritório.
De onde você tira inspiração para projetar?
De lugares e pessoas que encontro em viagens. Conhecer o mundo e a maneira como as pessoas vivem é imprescindível para fazer boas escolhas na hora de projetar. Conhecer outras realidades nos faz entender melhor a nossa e isso nos faz melhor em qualquer profissão.
Como foi a experiência de projetar o Teatro da Univates, que é uma referência arquitetônica para a região?
Foi justamente esta a demanda recebida do cliente: projetar um centro cultural que fosse um marco arquitetônico. Que colocasse Lajeado e a Univates no mapa.
A arquitetura é uma potente ferramenta para geopolíticas. Vemos isso há séculos por todo o mundo. Como exemplo posso trazer o Museu Gogenheim de Bibao que foi capaz de redirecionar a economia local cuja matriz havia esgotado.
A experiência foi desafiante e riquíssima pois envolveu muita dedicação, estudo e comprometimento de toda a nossa equipe. Cada definição inovadora gerou horas de pesquisa, detalhamentos e acompanhamento em obra.
Somos muito orgulhosos e realizados por ter passado por esta experiência e ter conseguido entregar esta obra a todos os usuários.
Pensando em mercado, quais os novos desafios apresentados por ele?
Acredito que cada vez mais os arquitetos vão se posicionar de forma diferente no mercado de trabalho, se reunindo em grupos maiores de profissionais. Penso que esta seja talvez a maneira certa dos arquitetos trabalharem, focando no projeto e deixando que alguém que entenda faça a administração do escritório. Assim, teríamos alguém treinado ao nosso lado para calcular nosso custo, nosso risco, nosso lucro e nosso preço. O modelo do arquiteto dono do seu próprio escritório de certa forma, gerou um enorme número de profissionais mal remunerados e sem suporte. Formados para fazer projeto e tentando administrar uma empresa.
O quanto você aposta em tendência e o quanto acredita em estilo?
Em um mundo “conectado” como vivemos hoje é difícil passar batido pelas tendências. Estão em tudo o que vemos e acabam nos levando em sua direção. Treinam nosso olhar.
Mas penso que são mais as tendências que me alcançam e não tanto eu que saio a procura delas. Em arquitetura de interiores elas sempre estão mais presentes porém na arquitetura edificada, prefiro apostar em materiais naturais e na simplicidade de formas sempre.
Casas ou edifícios são feitos pra durar décadas senão séculos e contam um pouco do que estamos vivendo no momento de sua construção, mas prefiro que este testemunho histórico esteja presente mais nas tecnologias de sua construção e menos nos revestimentos, cores ou modismos.
Se pudesse definir a profissão em uma frase, qual seria?
Vou pegar uma frase emprestada – certamente um gênio como Daniel Libeskind terá uma frase melhor do que qualquer uma que eu possa sonhar em dizer -: “Arquitetura é o completo êxtase em que o futuro pode ser melhor”.
Como conheceu o Anuário ARQ? E por que decidiu apostar na publicação?
Conheci o anuário há muitos anos atrás, lá no comecinho de sua história e desde lá somos parceiros desta publicação. Conheci ele através de nossos parceiros de trabalho, nossos fornecedores e nos encantamos pelo seu propósito. E seguimos assim, acreditando nesta publicação e esperamos que possamos ter nossos trabalhos, com muito orgulho, estampados nas páginas deste livro ainda por muitos anos. Vida longa ao Anuário ARQ e vida longa a Tartan Arquitetura!